Apresentadora trans é destaque em canal de jornalismo feito para público jovem
Texto: Redação
Mia Fidelis é apresentadora do Canal Reload, que aposta na criatividade e representatividade para estimular o debate entre as pessoas jovens sobre temas complexos como a luta LGBTQIA+, entre outros.
Apresentadora trans Mia Fidelis rompe com estereótipos em canal de jornalismo para público jovem
Uma notícia atual sobre um tema complexo, sendo transmitida com uma pegada moderna, interessante e de fácil acesso. É assim que a influenciadora, designer de moda e maquiadora Mia Fidelis (@miafidelis) se comunica com o público jovem através do Canal Reload (@canalreload), que atualmente, por meio das redes sociais (Instagram, TikTok e Youtube), se conecta com mais de 50 mil seguidores de todo o Brasil.
A carioca do Pechincha, bairro da Zona Oeste do Rio de janeiro, é uma mulher trans, binária e heterossexual, que se auto-intitula Trans&proud (em tradução livre: trans e orgulhosa).
Com carisma, leveza e uma linguagem quase didática, Mia transita de forma versátil pelo universo da moda e da notícia, inspirando o público jovem a se expressar, mas também a se ligar em temas urgentes, contribuindo com uma sociedade que ainda necessita de muita desconstrução.
A partir da inquietude e da necessidade de se expressar através da moda, Mia iniciou sua carreira em 2014, aos 17 anos. De lá para cá, se dividiu entre a vida acadêmica de designer de moda, produções e uma de suas grandes paixões: a maquiagem. Paixão essa que a levou a atuar em grandes campanhas de diferentes marcas reconhecidas no mercado nacional e internacional.
Como maquiadora profissional se aprimorou utilizando diferentes texturas, cores e formas, criando sua forma peculiar de transformar e inspirar pessoas a se libertarem de padrões ou estereótipos impostos, valorizando suas essências pessoais e características únicas.
Em 2020, após criar uma série de vídeos de cunho ativista para seu IGTV, Mia viralizou ao falar sobre o universo trans e ao comentar sobre frases tidas como “comuns” mas que soam ofensivas e preconceituosas, como por exemplo: “Você nem parece uma pessoa trans”, “Você parece uma mulher de verdade”, “Qual o seu nome de verdade?”, entre outras.
A partir daí, passou a integrar o time de apresentadores do Canal Reload, um projeto voltado para jovens que abusa da criatividade para descomplicar temas complexos, como a educação e o combate à evasão escolar, as pautas e a luta LGBTQIA+, o combate a violência de gênero, o racismo estrutural, a preservação do meio ambiente, a resistência dos povos originários do Brasil, entre outros.
Espalhando conteúdos de qualidade em diferentes formatos, como histórias em quadrinhos, músicas e poesias, o Canal Reload busca tornar a informação mais acessível e atrativa ao público jovem, além de dar dicas para identificar as tão faladas fake news, evitando a disseminação de informações falsas.
Valorizando o protagonismo jovem desde a sua concepção, o time de apresentadores é plural, sendo composto por pessoas negras, LGBTQIA+, indígenas, além de transitar por diferentes sotaques.
“Errar o pronome de uma pessoa trans, mesmo que sem querer, é naturalizar aos poucos a transfobia. O que para você, pessoa cis, é apenas um pronome e ou uma palavra, para nós tem muito significado”, explica Mia em um vídeo sobre a participação da cantora Linn da Quebrada no programa BBB22, que, mesmo com o pronome pelo qual tem o direito de ser chamada tatuado na própria testa, ainda precisa corrigir colegas de confinamento que insistem em tratá-la pelo pronome masculino.
Mas no Reload, Mia não se atém à temática LGBTQIA+. A apresentadora já reverberou, por exemplo, com um vídeo baseado em uma matéria da Ponte Jornalismo, explicando o porquê fazer apologia a assuntos como Nazismo e o compartilhamento via whatsapp desses assuntos é considerado crime.
Em outro vídeo, a influenciadora fala sobre a importância da vacinação infantil e comenta dados apurados pelo @Projeto #Colabora, que demonstram que o Brasil registrou uma queda brusca no número de pessoas vacinadas nos últimos anos, convidando a galera jovem a compreender de forma direta e reta, os reais motivos dessa piora.
Trabalho escravo infantil, o consumo consciente na moda, doença de Alzheimer, golpes digitais e até a situação preocupante das pererecas-de-flancos-reticulados das montanhas do Brasil Central, são temas que entram no radar da apresentadora que, assim como o projeto como um todo, quer mais é descomplicar para que a notícia esteja acessível para todo mundo.
“Como mulher trans, acho importante transmitir notícias que se relacionam com a comunidade na qual estou inserida. Mas é extremamente necessário avançar nesses espaços, para que pessoas trans também possam ser porta-voz de assuntos diversos, que não necessariamente estejam ligados a essa temática e que sejam relevantes para a vida das pessoas”, comenta Mia.
Um dos vídeos de maior sucesso de Mia tem como título “Sapo-Perereca e Rã” e foi criado a partir de uma matéria de jornalismo ambiental do portal O Eco, que demonstrou que os anfíbios representam o grupo de vertebrados mais ameaçado do planeta Terra, refletindo como isso pode gerar surtos de doenças como a malária por ameaçarem predadores naturais.
“É muito interessante poder falar desse tipo de assunto com o público jovem e do jeito que eles gostam de consumir notícias. Um jeito fácil de ser compreendido e repassado adiante!”, explica Mia.
O Reload é um canal de notícias jovem que produz conteúdo a partir das reportagens e checagens de 10 organizações jornalísticas: Agência Lupa, Agência Pública, Amazônia Real, Congresso em Foco, Énois, Marco Zero Conteúdo, O Eco, Ponte Jornalismo, Projeto #Colabora e Repórter Brasil. Juntas, elas têm mais de 100 prêmios nacionais e internacionais, como o Prêmio Gabriel García Márquez, Prêmio Rei da Espanha e um Leão de Bronze do Festival de Cannes.
O projeto foi uma das iniciativas ganhadoras do Google News Innovation Challenge em 2019, projeto do Google News Initiative, e contou também com apoio da Fundação Ford no Brasil. Em 2022, o projeto foi selecionado para o YouTube’s Sustainability Lab, que tem o objetivo de apoiar organizações de notícias a desenvolverem modelos de negócios sustentáveis em vídeo na plataforma.